O prédio da Academia Passo-Fundense de Letras

Por Marilise Brockstedt Lech e Paulo Monteiro

O centenário prédio da Academia Passo-Fundense de Letras, situado na Avenida Brasil Oeste, 792, em estilo arquitetônico eclético, foi construído em 1912, sob os auspícios do Clube Pinheiro Machado, entidade social que congregava os adeptos do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR).

Entre 1929 e 1932, serviu para a formação de professoras, com a instalação da Escola Complementar, raízes da atual Escola Estadual de Ensino Médio Nicolau de Araújo Vergueiro. Após abrigar algumas repartições públicas, passou a sediar o Grêmio Passo-Fundense de Letras, fundado no dia 7 de abril de 1938, depois transformado em Academia Passo-Fundense de Letras (APLetras), a 7 de abril de 1961. A Biblioteca Pública de Passo Fundo funcionou nesse mesmo endereço até 1976, quando então foi transferida para o prédio da Rua Moron, onde se localiza atualmente.

Após algumas reformas para a manutenção do prédio, que não foram suficientes, este precisou ser abandonado, ficando, por mais de uma década, com a sua fachada sustentada por estacas e escondida por tapumes, para proteger os transeuntes.

Nesse período, os acadêmicos passaram a reunir--se em diferentes lugares: Escola Notre Dame, auditório do Fórum, sala emprestada no Campus Central da Universidade de Passo Fundo, nas instalações do curso de protugues do Prof. Ironi Andrade, no auditório da Livraria das Faculdades e no escritório do Dr. Irineu Gehlen, entre outros.

Após a cogitação da sua demolição em 1985 (que impactou na comunidade passo-fundense preocupada com a proteção do patrimônio histórico da cidade), concluiu-se que apenas a fachada do prédio apresentava condições de preservação. Em 1988, uma reforma foi prevista no orçamento da Prefeitura de Passo Fundo. No entanto, em 1990, mais uma vez, a possibilidade de demolição foi aventada e gerou inúmeros protestos.

Foi então que o prefeito Airton Lângaro Dipp, filho de Daniel Dipp, um dos fundadores do Grêmio Passo-Fundense de Letras, tomou a iniciativa do tombamento do edifício sede da APLetras, elevando-o à categoria de Patrimônio Histórico Municipal.

A partir daí, a reconstrução do prédio saiu do papel, tendo sido finalizada, a primeira etapa, em 2002, quando então os acadêmicos voltaram a se reunir em seu próprio sodalício. Apesar de alguns problemas físicos ainda existirem no novo prédio, que manteve a belíssima e histórica fachada que ostenta a porta mais alta do Rio Grande do Sul, ele é motivo de orgulho para todos os passo-fundenses, que o têm como um dos “cartões postais” da cidade.

A biblioteca histórica da APLetras, embora modesta, conta com importantes obras clássicas e centenas de obras produzidas pelos mais de cento e oitenta acadêmicos que fizeram e fazem parte da rica história da instituição.

O auditório da instituição das letras locais, recentemente mobiliado com 150 confortáveis cadeiras compradas com recursos dos acadêmicos e doações dos “amigos da APLetras”, tem estado aberto à comunidade passo-fundense e, cada vez mais, tem sido palco de importantes debates.

Para citar um deles, destaca-se “I Fórum de Proteção ao Patrimônio Histórico”, realizado em conjunto com as faculdades de arquitetura da Universidade de Passo Fundo (UPF) e da IMED, que reuniu quase duas centenas de profissionais e estudantes preocupados com a manutenção da história do município de Passo Fundo.

A galeria dos presidentes, que exibe as fotografias de todos os trinta e quatro presidentes que dirigiram a APLetras ao longo dos seus 82 anos de história, funciona como espaço para a recepção de convidados após os eventos realizados no auditório e para as reuniões semanais dos acadêmicos, que ocorrem sempre aos sábados pela manhã.

A história deste lindo prédio confunde-se com praticamente a metade da história do município de Passo Fundo, não havendo quem não se encante com a sua beleza arquitetônica ou duvide do seu valor como patrimônio histórico da cidade.

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